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O encontro da Psicanálise com Deus

A maioria das pessoas conhece Viktor Frankl como o autor de "A Busca do Homem por Sentido" e/ou como

fundador da Logoterapia. Mas além desses dois aspectos de sua vida, Frankl é também conhecido como um filósofo, pensador e um observador do comportamento dos indivíduos e dos comportamentos e tendências da sociedade. Sua logoterapia, também conhecida como a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, é considerada por vários estudiosos como o movimento psicológico mais importante da atualidade.

Nasceu em Viena, 26 de março de 1905. No início da década de 1920, quando tinha quinze anos de idade, Frankl passou a se corresponder com Sigmund Freud. Em 1921, deu sua primeira conferência, sobre o tema "A respeito do sentido da vida". Em 1925, como estudante de medicina, Frankl encontra-se pessoalmente com Freud e se aproxima do círculo intelectual liderado por Alfred Adler. No ano seguinte, ele é excluído da Association de Psychologie Individuelle, em razão de suas divergências com Adler.

De 1933 a 1936, Frankl é diretor do pavilhão das mulheres suicidas do Hospital Psiquiátrico de Viena. Quando os nazistas tomam o poder na Áustria, Frankl, correndo risco de vida, sabota as ordens que recebera de proceder à eutanásia de doentes mentais sob seus cuidados. Em 1942 sua família é deportada da Áustria pelos nazistas. Em 1945 Frankl é enviado para Auschwitz, recebendo a tatuagem de prisioneiro nº 119.104. Subseqüentemente, será enviado para outros campos de concentração. Libertado quando do fim da guerra, Frankl toma conhecimento de que sua mulher morreu de esgotamento simultaneamente à liberação do campo de Bergen-Belsen. Nos 25 anos subseqüentes à guerra, Frankl será o diretor da policlínica de neurologia de Viena. Em 1948, obtém seu doutorado em filosofia com o tema: "O Deus inconsciente". Em 1955, torna-se professor de neurologia da Universidade de Viena. Em 1970, em San Diego, Califórnia (em cuja universidade federal passara a lecionar), é fundado o primeiro instituto de logoterapia do mundo.

Nos Estados Unidos - país em que também lecionou como professor visitante nas Universidades de Harvard, Dallas e Pittsburgh - a figura de Frankl atingiu notoriedade mundial, a despeito de suas teses contrariarem as correntes psicanalíticas tradicionais e dominantes.

Escreveu mais de 32 livros sobre análise existencial e logoterapia e os livros Viktor Frankl foram traduzidos em mais de 30 idiomas. Frankl recebeu o título de doutor honoris causa de diversas instituições de ensino do mundo inteiro, inclusive da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no Brasil. Como conferencista, Frankl visitou muitos países ao longo de sua vida, tendo passado pelo Brasil em 1984 (Porto Alegre), 1986 (Rio de Janeiro) e 1987 (Brasília).

No seu trabalho Philosophie und Psychotherapie. Zur Grundlegung einer Existenzanalyse ("Filosofia e Psicoterapia: sobre a fundação de uma análise existencial"), de 1939, ele cunha a expressão "Análise existencial".

No seu livro A Busca do Homem por Sentido (publicado pela primeira vez em 1946), Frankl relata suas experiências como interno de campo de concentração, descrevendo seu método psicoterapêutico para encontrar sentido em todas as formas de existência (mesmo as mais sórdidas) e, daí, uma razão para continuar vivendo. Em suas próprias palavras "O homem, por força de sua dimensão espiritual, pode encontrar sentido em cada situação da vida e dar-lhe uma resposta adequada.

Em "O Deus inconsciente", Frankl repudia a psicanálise tradicional, declarando que "Degradando o 'eu' em simples epifenômeno, Freud, por assim dizer, traiu o 'eu' em favor do 'isso'; mas ao mesmo tempo ele, por assim dizer, insultou o inconsciente, vendo nele nada além do que é do 'isso' - o instintivo - deixando escapar aquilo que é do 'eu' - o espiritual".

Em 1951, no seu livro Logos und Existenz ("O logos e a existência") Frankl completa os fundamentos antropológicos da Logoterapia.

Segundo Frankl, existiria no ser humano um desejo e uma vontade de "sentido". Ele percebe que seus pacientes não sofrem exclusivamente de frustrações sexuais (Freud) ou de complexos como o de inferioridade (Adler), mas também do que reputa ser o vazio existencial. Para o analista, a neurose revelaria antes de mais nada um ser frustrado de sentido, o que o levou a concluir que a exigência fundamental do homem não é nem a emancipação sexual, nem a valorização do self, mas a "plenitude de sentido". Segundo Frankl, a compensação sexual não seria nada além de um Ersatz para com a falta de sentido existencial. Por isso, conclui, o terapeuta não pode negligenciar a espiritualidade do analisado e a logoterapia passa a estar centrada no inconsciente espiritual, mais do que nas pulsões.

Em sua obra Em Busca de Sentido (1984) Frankl diz que o sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser.

Segundo a teoria de Frankl a motivação básica do comportamento do indivíduo é uma busca pelo sentido para sua vida e que a finalidade da terapia psicológica deve ser ajuda-lo a encontrar esse significado particular. A liberdade do homem de escolher seu próprio destino e o caminho a seguir, em qualquer circunstância deve ser respeitada. De acordo com a logoterapia (Logos definido como "significado"), o desejo de encontrar um significado para sua vida é a motivação fundamental no ser humano. Para Frankl, a principal preocupação do homem é estabelecer e perseguir um objetivo, e é esta busca que é capaz de dar sentido à sua vida, fazendo para ele valer a pena viver, e não a satisfação de seus instintos e o alívio de tensões como sustenta a psicanálise ortodoxa. Não se trata, portanto, de um sentido para a vida em termos gerais, mas um sentido pessoal para a vida de cada indivíduo, que este escolhe, mas também pode criar.

Frankl teorizou que o indivíduo pode encontrar um sentido para sua vida por três vias: (1) criando um trabalho ou realizando um feito notável, ou ao sentir-se responsável por terminar um trabalho que depende fundamentalmente de seus conhecimentos ou de sua ação, (2) experimentando um valor, algo novo, ou estabelecendo um novo relacionamento pessoal. Este é também o caso de uma pessoa que está consciente da responsabilidade que tem em relação a alguém que a ama e espera por ela"; e (3) pelo sofrimento, adotando uma atitude em relação a um sofrimento inevitável, se tem consciência de que a vida ainda espera muito de sua contribuição para com os demais. Nestes três casos, a resposta do indivíduo então deixa de ser a perda de tempo em conversas e meditação, e se torna a ação correta e a conduta moral objetiva.

Pereira (2007) diz que a formulação a respeito da “vontade de sentido” deve ser entendida historicamente, pelo sistemático descontentamento de Frankl com seus primeiros mentores. Fosse em Sigmund Freud ou em Alfred Adler, a pergunta radical sobre uma orientação última, ou uma motivação primeira para a vida humana parecia insuficiente. Frankl considerava que tanto o princípio do prazer de Sigmund Freud quanto o status drive de Alfred Adler falham justamente quando oferecem um ponto de vista análogo ao do funcionamento homeostático da redução de tensões em favor da restauração de um equilíbrio interno. Ignora-se aí o fato antropológico fundamental da autotranscendência da existência humana, cuja principal manifestação é exatamente a vontade de sentido.

A autotranscendência assinala o fato antropológico fundamental de que a existência do homem sempre se refere a alguma coisa que não ela mesma - a algo ou a alguém, isto é, a um objetivo a ser alcançado ou à existência de outra pessoa que ele encontre. Na verdade, o homem só se torna homem e só é completamente ele mesmo quando fica absorvido pela dedicação a uma tarefa, quando se esquece de si mesmo no serviço a uma causa, ou no amor a uma outra pessoa. É como o olho, que só pode cumprir sua função de ver o mundo enquanto não vê a si próprio (Frankl, 1991, p. 18)

Frankl critica também a idéia geral da “hierarquia das necessidades” de Abraham Maslow, afirmando que o preenchimento vertical dessas necessidades não é de muita ajuda, quando o que se procura é encontrar sentido: não se trata de ordenar as necessidades em maiores ou menores, e, sim, de identificar qual delas tem sentido, um objetivo por trás de sua realização. Na Logoterapia, a classificação que Maslow faz das necessidades “não explica o fato de que, quando as mais baixas não são satisfeitas, uma necessidade mais elevada, o desejo de sentido, pode transformar-se na mais urgente de todas” (Frankl, 2005, p. 27).

Pereira (2007) diz que na medida em que compreende a existência-espiritual humana como “autotranscendente”, Frankl deixa claro que o sentido potencial de uma situação vivida não guarda relações de necessidade com qualquer compromisso com a autoconservação ou com um ideal direto de enriquecimento egóico solipsista. Ele reposiciona as noções de “bem” decorrentes de uma ética contemporânea cujos ideais parecem ser uma felicidade individualizada e um prazer ensimesmado, recolocando-os num patamar de efeitos colaterais. Entre prazer ou felicidade e ação humana, há uma idéia de dignidade ou merecimento que só é inteligível quando a realização do sentido aparece como fim em si mesmo: só a reboque da satisfação encontrada desse modo é que a felicidade e o prazer se fundamentam como dignos de ser.

Fonte: https://psicologado.com/abordagens/logoterapia/viktor-emil-frankl-e-a-logoterapia © Psicologado.com

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