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Transtorno do Humor Bipolar


O Transtorno de Humor Bipolar (THB) é uma doença grave, incurável e de distribuição cosmopolita, afetando cerca de 1,5% dos homens e mulheres em todo o mundo. É considerada uma doença complexa, apresentando diversos quadros clínicos e vários modelos neurobiológicos e etiológicos que visam explicar o surgimento e a manifestação da doença. O Caracteriza- se por oscilações do humor que causam prejuízos significativos no âmbito biopsicossocial, com critérios específicos para seus subdiagnósticos.

Mesmo que já se possa considerar o THB uma doença bem estudada quando se analisa o número de estudos realizados avaliando diferentes aspectos neurobiológicos na doença, deve-se considerar que ainda existem poucos achados representativos que demonstrem evidências consistentes da associação entre estes achados com a etiopatogenia do THB. Ainda que a doença seja de difícil avaliação quanto à relação de causa e efeito entre o surgimento dos sintomas e os achados bioquímicos e moleculares descritos em pacientes bipolares, inúmeras alterações na função cerebral têm sido descritas em pacientes apresentando quadros de depressão e mania. Pesquisas utilizando modelos genéticos, neuroanatômicos, neuroquímicos e de neuroimagem no THB têm trazido importantes referenciais teóricos e conceituais para o melhor entendimento de como determinados mecanismos biológicos podem afetar a apresentação clínica, o curso e a resposta farmacológica na doença. A utilização de modelos animais também tem trazido novos conhecimentos sobre a neurobiologia do THB.

Os fatores neurobiológicos intracelulares e intercelulares envolvidos na fisiopatologia do THB incluem alterações em sistemas de neurotransmissão, segundos-mensageiros, vias de transcrição de sinal e regulação na expressão gênica. Apesar da grande quantidade e diversidade de estudos avaliando a biologia da doença, ainda pouco se sabe sobre a real associação entre os achados neurobiológicos do THB e as alterações comportamentais e neurovegetativas observadas nesses pacientes. Novos estudos em diferentes áreas como genômica, proteômica e metabolômica em diversos paradigmas no Transtorno Bipolar.

As perspectivas mais promissoras no estudo das bases biológicas da bipolaridade parecem estar associadas com a realização de estudos genéticos, de biologia molecular e neuroimagem funcional em portadores. Essas linhas de pesquisa têm provido descobertas recentes e ainda poderão trazer importantes contribuições sobre a etiopatogenia do THB.

O uso continuado dos estabilizadores do humor parece ser fundamental não somente para manter o quadro de humor estável, mas também para evitar o surgimento de modificações bioquímicas relacionadas a certo grau de dano neural. Por outro lado, a nãoaderência ao tratamento farmacológico e a conseqüente agudização do THB pode determinar danos celulares secundários e alterar de forma consistente, e por vezes irreversível, o processo cognitivo e o curso e prognóstico da doença.

Estudos que avaliem a modulação induzida pelos estabilizadores de humor em sistemas de neurotransmissão e neuroproteção neurônio-gliais poderão prover novos conhecimentos sobre a neurobiologia e auxiliar a descoberta de novas opções terapêuticas para o tratamento dos pacientes portadores dessa doença tão complexa. Ainda, o surgimento de novos fármacos com propriedade de estabilizar o humor, o refinamento diagnóstico, as estimativas de uma maior prevalência, o risco de suicídio, assim como os prejuízos sociais causados para o indivíduo portador do transtorno, sua família e a sociedade enfatizam a importância de cada vez mais este transtorno ser estudado de forma sistemática, continuada e crítica.

Fonte:

Rodrigo Machado-Vieira é professor orientador do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e pesquisador- LIM27, Instituto de Psiquiatria, FMUSP. Contato: rvieira@usp.br

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