Ativismo Religioso e o Vazio Espiritual
Hoje em dia os cristãos vivem o paradoxo de um ativismo religioso incomparável e um vazio espiritual sem precedentes. Na verdade , o ativismo não é outra coisa senão a máscara que cobre o vazio relacional.
De um lado , temos nossos fundamentos bíblicos e teológicos , sem os quais nosso caminho perde seus limites e fronteiras. Por outro lado , temos que olhar para o nosso coração , a fonte de nossos afetos e devoções , que é o lugar onde nascem nossas relações intimas e pessoais.
A crise que hoje vivemos, não apenas no Brasil , mas em todo o mundo ocidental, é o resultado da falência de uma civilização cientifica e tecnocrática , que fracassou ao desconsiderar a dimensão espiritual e relacional do ser humano.
A competividade instalou-se no homem moderno como um vírus para o qual ainda não se descobriu nenhum antídoto. Pelo contrario, ele vem sendo alimentado pelo individualismo e o consumismo que se tornaram o passaporte para a realização do homem.
Este fenômeno vem atingindo também a comunidade cristã na forma de um novo modelo de espiritualidade que desagrega e compromete o sentido de ser da igreja. Muitas igrejas vivem hoje um clima de competividade, disputando seu espaço no mercado religioso. É preciso inovar para competir e manter-se no mercado.
A influencia que estes novos hábitos e comportamentos trazem sobre nós é incalculável . Hoje a pessoa vale muito mais pelo que possui e pode oferecer do que por quem é , e a busca pelo ter exige uma opção pelo poder , pela independência , pela autonomia.
A partir do momento em que o ter define o ser , estabelecemos uma nova base para o significado da pessoa , e isto compromete todo o universo relacional , inclusive o espiritual.
Talvez a grande dificuldade que todos temos de reconhecer isso, é que não conseguimos nos ver fora do ativismo religioso em que estamos inseridos , o qual desenvolve um papel alienante. O ativismo nos aliena das relações pessoais, criando um mundo onde o fazer determina o significado do ser.
Tornamo-nos dependentes da agitação dos nossas missas ou cultos e programas religiosos que não reservam tempo nem oportunidade para um encontro com nossa própria alma, com nosso coração.
Sabemos muito sobre teologia , missão , ética , moral , louvor , mas nossa experiência pessoal e afetiva com Deus é excessivamente pobre. Tal pobreza é limitada não apenas pela falta de conhecimento bíblico e das influencias do mundo moderno sobre a nossa fé , mas também pela ausência de uma experiência real de amor e aceitação .
Temos muitos programas de convívio , mas o cultivo de amizades íntimas e profundas não é tão comum quanto realmente parece ser.
A lógica , a razão , a ciência e até mesmo a experiência , não determinam "a priori “ um encontro pessoal com Deus. Podemos ter mestres em divindades , doutores em teologia , líderes carismáticos , e ainda assim chegar a mesma conclusão de vazio experimentado por muitos cristãos ao longo da história .
Referencia: Ricardo Barbosa de Souza . Livro Caminho do Coração